Sonho com o teu corpo. Não com o teu
corpo «corpo». Com o teu corpo como mundo de um todo. De um todo teu. Sonhar é o que sei fazer melhor. Não sei nada sobre ti. Sei que, às vezes, nos vejo a
dançar sob uma lua prenhe numa noite de verão qualquer a sul. Vejo o reflexo do
mar como tela dos nossos movimentos; que para lá da imaginação fossem eternos.
Sinto-te viva, quando teimas entrar assim, com os pés descalços na areia
dos meus enganos, nessa tal noite de verão toda ela feita de sentidos rasgados. Nem
conheço o cheiro da tua pele, mas sei que teria o resto da minha vida para me
embrenhar nele. Conheço-te a voz, mas nem sequer sei se gostas do azul, ou se
preferes outra cor qualquer. Chamas-me quando não tenho medo de me entregar,
sabendo que ando aos caídos, sem rumo, sem sorte alguma. Podia cair em ti, se
não fosse o resto que me come os restos. Sou carne pisada, hematoma feito de
pancada, pele arroxeada, cicatrizes feitas e gravadas que contam histórias de
precipício. Tenho por hábito escolher os caminhos mais difíceis e complicados,
estou habituado a enamorar-me pelos impossíveis, pelos feitos indómitos e inefáveis. Sério. Conheço-me na aflição. Depois do teu corpo, depois destas viagens astrais que faço na minha cabeça
mirabolante, surge-me quase sempre um sorriso de vencido, e com o esgar de
desprezo por mim próprio, exclamo – que se foda tudo o que anda ao contrário.
Sem comentários:
Enviar um comentário