quinta-feira, 15 de maio de 2014

o teu corpo

Sonho com o teu corpo. Não com o teu corpo «corpo». Com o teu corpo como mundo de um todo. De um todo teu. Sonhar é o que sei fazer melhor. Não sei nada sobre ti. Sei que, às vezes, nos vejo a dançar sob uma lua prenhe numa noite de verão qualquer a sul. Vejo o reflexo do mar como tela dos nossos movimentos; que para lá da imaginação fossem eternos. Sinto-te viva, quando teimas entrar assim, com os pés descalços na areia dos meus enganos, nessa tal noite de verão toda ela feita de sentidos rasgados. Nem conheço o cheiro da tua pele, mas sei que teria o resto da minha vida para me embrenhar nele. Conheço-te a voz, mas nem sequer sei se gostas do azul, ou se preferes outra cor qualquer. Chamas-me quando não tenho medo de me entregar, sabendo que ando aos caídos, sem rumo, sem sorte alguma. Podia cair em ti, se não fosse o resto que me come os restos. Sou carne pisada, hematoma feito de pancada, pele arroxeada, cicatrizes feitas e gravadas que contam histórias de precipício. Tenho por hábito escolher os caminhos mais difíceis e complicados, estou habituado a enamorar-me pelos impossíveis, pelos feitos indómitos e inefáveis. Sério. Conheço-me na aflição. Depois do teu corpo, depois destas viagens astrais que faço na minha cabeça mirabolante, surge-me quase sempre um sorriso de vencido, e com o esgar de desprezo por mim próprio, exclamo – que se foda tudo o que anda ao contrário. 

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