sábado, 3 de maio de 2014

estética

É preciso ser-ser estúpido e ignorante quanto à noção de perfeição. Um estado que não condicione a escolha da esferográfica, caneta de tinta permanente, lápis ou pena. 
É preciso ser-se ignorante para com tudo para que, no fim, a ideia de felicidade sobre algo, possa, pelo menos remotamente, existir. Então, por que motivo forças tanto a tua mão?
Relaxa os músculos e escreve mal. Deixa. Deixa-te. Deslizar suavemente sobre o papel, e arredar para longe, bem longe, essa ideia de estilo pré-concebido, estética nascida sabe-se lá onde e sob que parto, ou nome de parto alguma vez dito ou pronunciado. 
Esta é a tua voz escrita sobre fogo, mar, terra e água de ti. E é nela que tens de confiar. Confia. É nela que tens de viver e não debaixo de uma tela concebida única e exclusivamente para dar um prazer excelso a um outro olhar menos discreto. Teu ou não.
Vive-se no belo. Suga-se tudo o que nos apraz, olhar, coração e alma. E nesta sempiterna contradição, porque o que não vemos raramente se expressa no nosso interior, não rompemos com o que há a romper, não rasgamos o que há para rasgar. A primitividade de outras eras.
Três da manhã. 
Sono nenhum me atinge. Fico por aqui. A contar arrependimentos, de segundos que não durmo, de horas em que não descanso e que, amanhã, me vão pesar como fardo de chumbo.
Hoje sou feito disto. De desassossego. 
Três da manhã. 
Hora de fingir que não me preocupo com a estética. Porque sim, preocupo-me.

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