sábado, 25 de julho de 2015

câncer

Vieras outra vez – como me disseste que virias. Vieras uma vez mais, com o julgamento, com a superioridade de quem se despe e se volta a mascarar, com a inferioridade esboçada para seres maior. Agarra-te e cola-te ao que quiseres. Tu – como anjo de apocalipse de plástico ou cera que se derrete. Tu – com o braço maior da tua podridão. Tu – como meu ser nefasto, acho que te amei na profundidade da minha doença hereditária. A faca desmedida a pingar o teu sangue – sangue de mim. Não me vens. Alimentar-te-ias deste meu açúcar, deste meu sal, deste meu tecido esponjoso; tu sabes que sim. Ainda teria de ser teu - foda-se, nem que fosse en la  muerte. No cruel sentimento de que haveria outro dia para mim a seguir, haveria? Dir-me-ias que não. Dir-me-ias que estabeleces a ordem confusa de sinas com que me foras tecendo, à tua maneira portanto. Dir-me-ias que serias tu, sim tu, que me irias dizer que o inaudito movimento último, seria sempre teu – proclamado. Até ao fim. Como ligadura ou gaze sem qualquer utilidade. Como vazio a que me propus, quando te fui qualquer coisa, sem ser vida num cindido gesto a que me remeteste – como pude sentir que me foras e que não vieras em vão? Cajado de enganos como fantoche de pratas, sempre a mesma merda. Incinerados os meus filhos, mortos e carcomidos no teu rasto que a prosa, maldita de mente fodida, tem os dias marcados pelas chamas. Nesta eterna corrida para a estúpida da felicidade - murmuro - deixo-a de leve para os outros. Como boca caída – talvez, ainda. Dir-me-ias assim que me invadisses, porque eu sei – sim, sei que o farias - dir-me-ias assim – acabou por hoje, mas quero que voltes na terça ou quinta-feira para te consumir outra vez. Sei também, que me manterias cativo e que me violarias na tua falácia, com a teu isco preferido - «sempre». Sabia que aqui chegarias, não sem antes de saber, que aí, e minha amiga agora que te chamo, que aí voltaria bem lá atrás onde me prometeras que eu teria de ir. À ilusão do que vivi – onde tu e eu nos encontrámos para me dizeres que de alguma forma morri. Morreria por um se. Morreria por um talvez. Vieste tu assim – destemida e mutante. Vieste tu assim, aqui no rumor e no silêncio dizer-me que nunca nasci. E eu acreditaria, se fosse o inútil de outras horas profanas. Insurge-te, mais uma vez. Por muito que te revoltes e que me apontes ao chão - não. Ficar-te-ei indiferente. talvez, vá para a esplanada da minha praia favorita ler o Paraíso Perdido do Milton, com uma chávena de café e um maço de tabaco ao meu lado. E, para que saibas, não preciso de mais nada.

Sem comentários: