terça-feira, 7 de julho de 2015

fatalidades

Não sei o que te anda a passar por essa cabeça distorcida, sinceramente, não sei. Queres «acabar» comigo e escurecer ainda mais a ideia que tenho dos amores felizes ou «amores infelizes»? Já deverias saber que nessa «questão» não aposto qualquer ficha, aliás, nem sequer me sento na mesa de jogo à espera de ver nas cartas uma possível combinação do caralho. Sim, o amor é um jogo, especialmente para aqueles que não se amam a si próprios e tu sabes – melhor que ninguém - que não tenho uma ideia agradável de mim. O desafio que tenho é voltar a acreditar nas pessoas, sabes, nas pessoas em geral. Reconhecer-lhes os verdadeiros valores humanos e, talvez, dessa maneira, descobri-los também em mim, sabendo que alguns já cá «moram». Mas tu insistes em denegrir isso. Envias-me mensagens com fotografias a preto e branco ou ligeiramente desfocadas – o suficiente para te reconhecer os contornos – despida e com legendas pirosas do género: «vou fazê-lo agora». Noutra ocasião, mandaste-me uma imagem com roupas de homem espalhadas pelo chão do teu quarto, reconheci logo o taco envernizado que está descolado junto à cómoda, devidamente acompanhada com a pérola escrita – o dono desta camisa dá-me tesão. E no outro dia, sexta-feira passada, não foi, minha querida? Às três e tal da manhã – sim, acordaste-me, sabes que tenho o sono leve, é um trunfo teu – um grande plano da tua barriga, a tua mão debaixo das cuecas, aquelas que comprámos em Paris, numa das várias viagens que fizemos para «salvar» a nossa relação. As distracções combinam tanto com as relações já fodidas e doentes. Ainda bem que não nos deu para fazer um filho à espera que ele nos resgatasse dos escombros – coitada dessa alminha que íamos trazer ao mundo. Mas o que me «parte» todo nessa imagem que vejo, ainda estremunhado, é uma tromba desfocada em segundo plano no meio das tuas pernas abertas e arqueadas. Não trazia legenda essa imagem digna de uma menção honrosa da indústria pornográfica. És uma mulher de pormenores, sobretudo na destruição. Virei-me novamente e adormeci. Às vezes, pecas, não pela falta de inteligência nem de criatividade, mas sim pela subtileza. Podias, simplesmente, invadir o restaurante onde costumo jantar às terças-feiras com as minhas amigas «boazonas e burras» e com as quais não acreditas que não haja cama e orgias maradas sob o efeito de MD ou outra merda qualquer tóxica. Isso sim. Era de valor. Fazeres um escândalo, deixares cair a máscara de mulher executiva que envergas durante todo o dia, a mulher poderosa que comanda – quantas pessoas, minha querida - trezentas e tal? –, e mostrar à plateia, a  menina que cresceu em Chelas, porque eu sempre te disse: podes sair de Chelas, mas não podes querer que Chelas saia de ti, mesmo que chegues a CEO (adoro). Não é que a V. me contou que chegaste mesmo? És uma mulher de pormenores, como já disse.
Mas, voltando ao restaurante, seria assim que te admiraria verdadeiramente no teu empreendimento letal. A bela da peixeirada em local público, a ofensa gratuita, tu - o napalm - a debitar insultos, a gritaria, as bolas de Berlim no caralho da praia, tudo ali em pleno repasto. Voariam copos e pratos. Haveria de gostar disso e condiz melhor com a imagem que tenho das histórias de amor com caruncho.
No entanto, continua a enviar-me fotos dos gajos que seduzes (?) no ginásio onde pagas metade do ordenado mínimo para ter um PT a lamber-te os treinos. Talvez um dia, e com a tua devida autorização, minha querida, as publique num livro. Acho que ficariam a matar numa edição da Taschen. Ainda bem que toda a gente pensa que a nossa história é mentira. Porque é verdade – que é mentira.

Sem comentários: