segunda-feira, 28 de abril de 2014

as pessoas já não têm quem as ouça

Aqui há dias, bebia café com uma grande amiga minha quando fomos interpelados por uma senhora. Pediu-nos uma esferográfica só para «tirar aqui nota de um número de telefone». Nem eu, nem a minha amiga tínhamos connosco o objecto em causa e pedimos desculpa pelo facto. Somos especialistas em pedir desculpa. Por tudo e por nada - desculpa - talvez porque carregamos a culpa avidamente às costas. Mas a senhora não se ficou por aí; disse que já não vinha à «vossa cidade» há muito tempo, perguntou-nos, também, onde se poderia ir ao cinema, que uma amiga vivia ali perto mas que não atendia o telefone. Depois de termos dado a indicação solicitada, ainda ficámos a saber que um sobrinho tinha vindo há muitos anos estudar para a «vossa cidade», e que não tinha gostado das pessoas mas que nós «éramos uns verdadeiros amores». Ao despedir-se de nós, ainda perguntou onde era o Turismo, e a minha amiga anuiu fornecendo as indicações precisas para que a senhora não se perdesse. Enquanto se afastava, pensei que poderíamos ter convidado a senhora para se sentar na nossa mesa e, quem sabe, ouvir mais algumas histórias simpáticas, porque lhe percebi a vontade de conversar. À noite, quando me deitei, recordei o episódio e adormeci com a ideia de que as pessoas já não têm quem as ouça. 

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