terça-feira, 17 de junho de 2014

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Ontem, ao fim do dia, fui fazer uma corridinha. Ao percorrer um trilho por uma urbanização deserta, vi dois carros estacionados. Num deles, dos dois lados, pendiam braços dos vidros abertos, com cigarros acessos nas mãos. Pensei que fosse o cigarro clássico depois de uma foda bem mandada. Não fosse a mente deturpada que tenho, e imaginei que era tudo puro. Um encontro entre apaixonados, e não amantes perdidos num romantismo qualquer de encornanços com vista para os arbustos e para as caixas de electricidade com as tampas abertas porque o cobre dá bom guito. Não fosse a minha mente deturpada, e imaginei, também, que não havia em casa de cada um deles alguém à espera de ninguém, com o jantar a arrefecer num prato, um miúdo a berrar no banho, uma mãe preocupada com os afazeres domésticos, um marido a trabalhar até tarde no escritório, nada, tudo puro, só mais um final de tarde agradável passado nas ruas desertas por quem não lhe apetece ainda ir já para casa. Continuei a corrida, e não fosse a minha mente deturpada e acreditaria nos amores puros, mesmo em terrenos remotos e estradas desoladas.

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